Depois de uma década, surge um novo CD de Toquinho com músicas inéditas, a lançado em junho de 2003, pela Movieplay. As músicas deste CD são o reflexo da contínua trama do homem com o cotidiano. Traduzem o propósito de Toquinho de colocar-se à disposição da vida e dar-se o luxo de perseguir a felicidade.
Predomina a sóbria interpretação, acompanhada de arranjos delicados e sensíveis, mesmo nos ritmos mais fortes. “Só tenho tempo pra ser feliz” é a radiografia de um homem deslumbrado com o nascimento da filha, dedicando a ela toda a ternura de “Canção pra Jade”. Além deste sucesso, você ainda confere “Receita de felicidade”, “Esquece”, “Amor ateu” e “Lindo e triste Brasil”. Um CD que certamente ficará como item principal nas discotecas dos apaixonados pela boa música brasileira.
Mais sobre Toquinho
A música desvenda a alma de Toquinho, em forma de acordes levando junto o homem simples e comum que ele é. “Construir acordes e harmonias, fazer música e poesia” é a profissão de quem sabe harmonizar também a vida no compasso do prazer. Dotado de natureza lúdica, divertir-se foi sempre seu prato predileto em torno de várias mesas: de bar, de restaurante, de futebol de botão, de sinuca. Passou a fazer do palco uma extensão das tramas futebolísticas, onde, mesmo nos momentos mais complicados, encontra escape para uma pilhéria, uma risada que ajuda a encarar o trabalho como uma prazerosa alegria. Entrega-se à profissão sem escravizar-se a ela.
A música ofereceu a Toquinho um poder admirável: construir a própria fantasia. E o violão é o suporte dessa fantasia. O instrumentista nasceu em Toquinho pelas mãos de vários mestres. O primeiro aprendizado extraído de Paulinho Nogueira, que fez surgir o solista de violão. Depois, a procura de um estilo próprio, no encalço do virtuosismo de Baden Powell, das harmonias de Oscar Castro Neves e Edgard Gianulo, do eruditismo de Isaias Sávio. E mais a dedicação individual de horas e horas transformada em trabalho artístico de dedos e cordas em busca do som mais puro a identificar a dignidade do erudito com a simplicidade do popular
Nessa trajetória, chegou o momento em que o instrumentista gerou o compositor, acolhendo os primeiros parceiros: Chico Buarque, Paulo Vanzolini, Jorge BenJor. A vida ofereceu a Toquinho o grande presente: o encontro com Vinícius de Moraes. O poeta doando ao violonista a juventude da experiência; e recebendo em troca a experiência da juventude. Era o que ambos precisavam um do outro. O encontro virou parceria e amizade carinhosa entre os dois. Em dez anos criaram cerca de 100 canções registradas em dezenas de discos e difundidas em milhares de shows. Vinicius e Toquinho haviam se tornado para o público uma unidade criativa. Após a morte do poeta, pairava uma pergunta:
“E agora, Toquinho?”. Teria de continuar fazendo o que sempre fez: agarrar a vida e a música com naturalidade e alegria. Antepor o aspecto humano aos detalhes materiais e prosseguir dividindo-se com a integridade de quem vai construindo, pedaço por pedaço, uma estrada nova. Já havia experimentado outras parcerias, com Gianfrancesco Guarnieri, Belchior, Francis Hime, Mutinho. A partir de 1980, consolidaria sua carreira numa dimensão internacional compondo com os italianos Fabrizio e Morra e com o saxofonista japonês Sadao Watanabe, afirmando-se definitivamente como músico, instrumentista e intérprete na Europa e no Japão.
É fascinante observar em Toquinho, a sagacidade de sua juventude e sua delicadeza em revigorar o simples. Por isso, consegue penetrar no mundo da infância, tornando-o vivo e real em suas músicas, levando a criança para uma relação mais profunda com as coisas além da simples recreação. Há um elo de cumplicidade entre a música e a inteligência da criança, tanto nos trabalhos feitos com Vinícius (“Arca de Noé” I e II), como naqueles com Mutinho (“Casa de Brinquedos”) e Elifas Andreato (“Canção dos Direitos da Criança”).
Alma continuamente efusiva e inserido no cenário universal da música, Toquinho mantém-se aberto a novas criações, sendo Paulinho da Viola e Paulo Cesar Pinheiro seus parceiros mais recentes. Porém, apesar da importância da música e do que ela lhe tem proporcionado, o violão será sempre um coadjuvante, nunca o astro principal da vida de Toquinho, que carrega como uma de suas filosofias não abrir mão de fazer o que quer.
(texto de divulgação - "Aquarela da Paz: Toquinho e Rolando Boldrin")
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