O sábado amanheceu ótimo para uma piscina. Vando pulou da cama e desceu correndo para a cozinha. Sentando-se à mesa, começou a tomar café.
— Cadê o povo?
— Sua mãe foi ao cabeleireiro e seu pai saiu.
— Glorinha telefonou?
— Não, graças a Deus.
— E por que graças a Deus?
— Porque ela fica duas horas falando como se eu não tivesse o que fazer!
Depois do café, quarto e música. Talvez jogasse futebol ou fosse à piscina à tarde. Por volta de meio-dia, desceu para almoçar. Sem pular os degraus.
Após a sobremesa, os últimos preparativos. Magali aproveitava para exagerar em tudo — e quem corria era Benedita. Só parou um pouco ao sentar-se no automóvel.
— Vando — segurou o filho pelo braço —, nada de extravagâncias durante a nossa ausência, hein?! Voltamos domingo à noite.
— Está bem, mãe — Vando deu-lhe um beijo de despedida. — Pode ir sossegada.
Quando o automóvel virou a esquina, a cozinheira desabafou:
— Sua mãe vai acabar me deixando maluca! — E entrou na casa.
Vando também entrou e sentou-se nas almofadas da sala. Pensava em Glorinha, na piscina, na balada à noite... Até que seus olhos foram atraídos pelas chaves. O corpo estremeceu, como se tocado por eletricidade. Por que elas o fascinavam tanto?
Levantou-se. A ideia era voltar para o quarto e ouvir música. Mas aquelas chaves...! Então foi até elas, pegou-as e ficou observando-as na palma da mão: estremeciam a cada batida do seu coração, como se tivessem vida própria. Ao mesmo tempo, pareceu ouvir um eco dentro de si: "Jamais porei os pés na casa onde ela matou meu filho!... Cuidado! Ela era feiticeira. Deve ter deixado o mal naquela casa... tenha muito cuidado!".
De repente, uma ideia absurda lhe iluminou o rosto. Embora não curtisse histórias de terror, reconheceu que uma força estranha começava a dominar-lhe a vontade.
— Rapaz! — disse, baixinho. — Por que não pensei nisso antes? Guardando as chaves no bolso, correu ao telefone:
— Gló? Tenho uma notícia pra você: não vou à piscina à tarde nem te encontrar à noite. É que preciso viajar pra São Paulo...
Do outro lado, a voz estrilou.
— Preciso ir, Gló! Não, não vou com amigos, vou sozinho, de moto. Por quê? É que tenho uma coisa importante a fazer... Por telefone não posso explicar. Eu...
Irritada, Glorinha desligou. — Bestinha! — xingou Vando, batendo o telefone. Correu até a cozinha.
— Benedita, vou sair.
— É só os seus pais virarem as costas e você inventa de bater asas. Não ouviu o que sua mãe disse?
— Mas acontece que preciso sair!
— Aonde você vai?
— Pra São Paulo.
A xícara quase caiu das mãos da cozinheira.
— Santas Almas! São Paulo?
— É...
— Menino, você ficou maluco? Fazer o que em São Paulo, sozinho, sem autorização dos seus pais?
— Prometo que volto amanhã cedo... — E foi em direção à garagem.
Benedita foi atrás.
— Pelo amor de Deus, Vando, volte aqui! Que maluquice é essa?
Vando colocou o capacete e ligou o motor.
Uma nuvem de fumaça provocou tosse em Benedita.
— Volto amanhã cedo, antes do pessoal, Benê... — Acenando enquanto se afastava, ainda atirou-lhe um beijinho.
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