Quando deu acordo de si, estava com as chaves na mão. Mas por que as palavras de Benedita, o desabafo de dona Norma e as explicações do pai continuavam martelando na sua cabeça?
Devolvendo as chaves ao lugar, subiu para o quarto.
Banho, telefonema para Glorinha, os mesmos papos... Estava se sentindo estranho. Esquisito! Tinha deixado transparecer porque Glorinha perguntou o que estava acontecendo.
— Você está diferente... falando mole... Até parece que não dormiu direito! — disse ela.
Vando, porém, não comentou nada. Glorinha acabaria dando risada se soubesse que ele estava encucado com a história de Benedita.
A tarde terminou. Pelas sete, a empregada subiu ao quarto para avisar que o jantar estava servido. Deitado sem camisa, Vando ouvia música tão alto que Benedita teve de gritar.
— Vou indo! — E saltou da cama.
Desceu pulando os degraus do jeito que sua mãe detestava.
Sentada à mesa, bonita, de cabelo curto e grandes olhos escuros, Magali fazia questão de ser elegante e impecável. Vando adorava-a exatamente por ser tão refinada.
— Meu filho! — Ela assumiu um ar reprovativo. — Quando você vai aprender que um cavalheiro não desce a escada pulando os degraus? — Magali suspirou. — Desisto de lhe ensinar boas maneiras!
— Conheço as regras, mãe. Acontece que faço isso pra te aborrecer. Eu te adoro, sabe? — E deu-lhe um beijo.
— Oh, você...
Começaram a se servir.
— Fonseca — disse a esposa —, esta tarde estive conversando com Emília. Ela disse que em Campinas há um conjunto que tocaria de graça na nossa festa de caridade.
— É?
— Acontece que alguém precisa ir conversar com eles — prosseguiu Magali. — Então, eu disse que nós poderíamos!
— Ô, Magali, será que nunca teremos um fim de semana sossegado?
— Meu bem, eu já prometi! Agora não posso voltar atrás...
Vando começou a rir, e o pai revirou os olhos.
— Está bem, Magali, iremos. Mas fique você avisada: no fim de semana que vem, não saio nem amarrado desta casa!
— Você é um anjo, Fonseca!
— A que horas saímos?
— Depois do almoço.
Magali sorriu e voltou-se para o filho: — E você, Vando, não gostaria de ir conosco?
— Ah, não, obrigado! Tenho um monte de compromissos inadiáveis!
— Já sei o nome desses compromissos.— Magali piscou. — Eles se chamam Glorinha, não é?
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