sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

O enigma da casa de vidro - Cap. 3

Quando deu acordo de si, estava com as chaves na mão. Mas por que as palavras de Benedita, o desabafo de dona Norma e as explicações do pai continuavam martelando na sua cabeça?

Devolvendo as chaves ao lugar, subiu para o quarto.

Banho, telefonema para Glorinha, os mesmos papos... Estava se sentindo estranho. Esquisito! Tinha deixado transparecer porque Glorinha perguntou o que estava acontecendo.

— Você está diferente... falando mole... Até parece que não dormiu direito! — disse ela.

Vando, porém, não comentou nada. Glorinha acabaria dando risada se soubesse que ele estava encucado com a história de Benedita.

A tarde terminou. Pelas sete, a empregada subiu ao quarto para avisar que o jantar estava servido. Deitado sem camisa, Vando ouvia música tão alto que Benedita teve de gritar.

— Vou indo! — E saltou da cama.

Desceu pulando os degraus do jeito que sua mãe detestava.

Sentada à mesa, bonita, de cabelo curto e grandes olhos escuros, Magali fazia questão de ser elegante e impecável. Vando adorava-a exatamente por ser tão refinada.

— Meu filho! — Ela assumiu um ar reprovativo. — Quando você vai aprender que um cavalheiro não desce a escada pulando os degraus? — Magali suspirou. — Desisto de lhe ensinar boas maneiras!

— Conheço as regras, mãe. Acontece que faço isso pra te aborrecer. Eu te adoro, sabe? — E deu-lhe um beijo.

— Oh, você...

Começaram a se servir.

— Fonseca — disse a esposa —, esta tarde estive conversando com Emília. Ela disse que em Campinas há um conjunto que tocaria de graça na nossa festa de caridade.

— É?

— Acontece que alguém precisa ir conversar com eles — prosseguiu Magali. — Então, eu disse que nós poderíamos!

— Ô, Magali, será que nunca teremos um fim de semana sossegado?

— Meu bem, eu já prometi! Agora não posso voltar atrás...

Vando começou a rir, e o pai revirou os olhos.

— Está bem, Magali, iremos. Mas fique você avisada: no fim de semana que vem, não saio nem amarrado desta casa!

— Você é um anjo, Fonseca!

— A que horas saímos?

— Depois do almoço.

Magali sorriu e voltou-se para o filho: — E você, Vando, não gostaria de ir conosco?

— Ah, não, obrigado! Tenho um monte de compromissos inadiáveis!

— Já sei o nome desses compromissos.— Magali piscou. — Eles se chamam Glorinha, não é?

Nenhum comentário:

Postar um comentário