Há 66 anos morreu Lampião e Maria Bonita...
Era um 28 de julho de 1938. Chegava ao fim a trajetória do mais popular cangaceiro do Brasil. Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, foi morto na Grota do Angico, interior de Sergipe.
Por sua inteligência e destreza, Lampião até hoje é considerado o Rei do Cangaço. Nascido no interior de Pernambuco, filho de José Ferreira, um pequeno proprietário rural. Sabia ler e escrever e era um hábil artesão em couro.
No sertão castigado por secas prolongadas e marcado por desigualdades sociais, a figura do coronel representava o poder e a lei. Eram frequentes, também, os atritos entre famílias tradicionais devido às questões da posse das terras e às brigas pelo comando político da região. Num desses confrontos, o pai de Lampião foi assassinado. Para vingar a morte do pai, Lampião entrou para o cangaço.
Cometeu inúmeros crimes e atrocidades. Ele e seu bando chegavam nas cidades cantando. Se o povo da cidade negasse o que ele pedia, eles revidavam: estupravam, matavam, incendiavam. Mas se atendesse a seu pedido, organizava festas e dava esmolas.
Lampião ganhava fama por onde passava. Muitas são as lendas criadas em torno de seu nome. Existem teorias para o apelido: uma delas é que ele teria iluminado o ambiente a tiros, como um lampião, para que um colega achasse um cigarro caído, no escuro; outra é que ele teria feito uma modificação num fuzil, para torná-lo mais rápido, de modo que o cano estava sempre aceso, como um lampião.
Praticavam assassinatos por vingança ou por encomenda. Pela fama que alcançou, Lampião tornou-se o "inimigo número um" da polícia nordestina. Muitas eram as recompensas oferecidas pelo governo para quem o capturasse. Mas as tropas oficiais eram sempre derrotadas quando enfrentavam seu bando.
Além de se utilizarem da violência no agir, ainda contavam com o respaldo do governo. Por sua vivência no sertão nordestino, em 1926, o governo do Ceará negociou a entrada de seu bando nas forças federais para combater a Coluna Prestes. Seu namoro com a lei durou pouco. Voltou para o cangaço, melhor equipado com as armas e munições oferecidas pelo governo.
Conheceu Maria Déa, a Maria Bonita, em 1929 e, no ano seguinte, deixou o marido e seguiu com Lampião. Durante os oito anos que viveu com Lampião, foi totalmente apaixonada por ele e teve quatro gestações, sobrevivendo apenas uma menina, Expedita. Foi o início das mulheres no bando.
A terra, no interior do nordeste, é toda feita de caatinga, que quer dizer "mata branca". Compõe a zona mais árida do Brasil e foi o berço do movimento cultural mais original que tivemos até hoje em nossa história - o Cangaço. Surgido da aridez da miséria, cercado por uma natureza inóspita e bela, o Cangaço criou suas próprias cores, refletida em uma vestimenta rica e pacientemente bordada pelos homens mais ferozes que já se viu.
Lampião definia as pessoas do cangaço como: "aristocracia cangaceira", com suas regras, sua cultura e sua moda. As roupas, inspiradas em heróis e guerreiros, como Napoleão Bonaparte, eram desenhadas e confeccionadas pelo próprio Lampião. Os chapéus, as botas, as cartucheiras, os ornamentos em ouro e prata, mostravam sua habilidade como artesão.
Após dezoito anos, a polícia finalmente conseguiu pegar o maior dos cangaceiros. Na madrugada do dia 28 de julho de 1938, a Volante do tenente João Bezerra, numa emboscada feita na Grota do Angico, matou a Rainha e o Rei do Cangaço e parte de seu bando.
Suas cabeças foram cortadas e expostas em praça pública. As de Lampião e Maria Bonita foram para o Instituto Nina Rodrigues em Salvador. Foram enterradas em 1969.
Lampião deixou uma música popular de sua autoria (que ele cantava quando chegava a uma cidade):
"Olê, mulher rendeira,
Olê mulher rendá,
Tu me ensina a fazer renda
Que eu te ensino a namorar."
(Fontes: revista Super Interessante / Alô Escola e sites lampiaovitual e Bolsa de Mulher)
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