Assim como o céu e o mar nunca se encontravam, existiam dois elementos que gozavam de igual condição. Na verdade eles sequer se conheciam ou sabiam da existência, um do outro.
Um desses elementos era a Razão. Sempre altiva, coerente, sensata, calculista, pensativa, a razão vivia e procurava estar presente em todas as situações da vida. Qualquer que fosse a decisão, lá estava a Razão. Às vezes, era enganada e não chegava a tempo, e as decisões eram tomadas sob outro aspecto.
A Razão vivia de uma forma tranquila, mas, no entanto não era feliz. Ela sentia falta de alguma coisa. Um grande vazio tomava conta da sua alma, invadindo-lhe todo o ser. Um belo dia, a Razão estava vagando em pensamentos, olhando o horizonte. Distante dali, observando a cena, estava o Destino. O Destino gostava de pregar peças nas pessoas, ora facilitando, ora criando os maiores problemas. Então, o Destino resolveu pregar uma peça na Razão e deixar, já que esta era tão racional, que ela mesma resolvesse a situação na qual iria entrar. Quis o Destino que a Razão conhecesse a Emoção, já que em condições normais elas jamais se cruzariam, não custava nada facilitar as coisas e ver o que acontecia.
A Razão estava pensativa, distante, quando subitamente ao se virar deparou com a Emoção vindo ao seu encontro. Por alguns instantes a Razão ficou muda, desnorteada e sem rumo. Faltou-lhe o chão e a respiração, perdeu o sentido do tempo. Era a coisa mais linda que jamais tinha visto em toda a sua existência.
A Emoção era linda: tinha olhos de ternura, uma voz doce e suave, pele que mais pareciam pétalas de rosas, cabelos que voavam ao vento, espalhando um perfume indescritível. Que sensação maravilhosa. Nunca havia sentido nada parecido em toda a sua vida. Foi amor à primeira vista. A Emoção, por sua vez, ficou encantada com a Razão. Que modos, quanta delicadeza ao falar, quanto cuidado e carinho, respeito, atenção. Era tudo que sempre quis.
De longe, o Destino observava, preocupado, tal encontro e as suas consequências. Como puder pensar em juntar a Razão e a Emoção? Eles não foram feitos um para o outro, jamais andarão pelo mesmo caminho, lado a lado. E agora? Que fui fazer!
Mas a Razão estava apaixonada pela Emoção. A Emoção encantada com a Razão. Porém, como sempre, a Razão começou a pensar e ponderar o que poderia significar tal amor e as suas consequências: daria certo, iria sofrer e fazer sofrer, teriam chances de serem felizes? Enfim, tudo que a razão poderia ponderar nos assuntos do coração. Tudo o que a Razão queria era ser feliz, viver um intenso amor. Sentir seu coração palpitar e disparar ao ver sua amada. Viver cada segundo, cada dia como se fosse o último da sua vida. Amar intensamente e incondicionalmente. Não importava quanto tempo poderia durar aquele amor. Enquanto durasse, seria infinito e eterno e, assim teria lembrança da melhor sensação que conheceu na vida. A Razão lembrava as frases do poeta que dizia que “você pode ter um milhão de motivos para não amar uma pessoa e apenas um para amá-la. Este prevaleceria”. Era nisto que tentava se apoiar, pois tinha descoberto que morrer de amor para ela era viver.
E assim viveram: Razão e Emoção. Entregaram-se um ao outro, amando mais do que podiam e suportavam seus corações, vivendo intensamente uma paixão avassaladora até o fim das suas vidas. Descobriram que o amor e muito mais que a razão. É superior a emoção, pois esta não sobrevive sem o amor. Descobriram que o coração acharia os motivos para manter unidos a emoção e a razão.
(texto do ouvinte Ivaldo Calazans)