O que está acontecendo em seu dia-a-dia é resultado de um processo que você pôs em movimento. Observe o que a insatisfação deseja lhe mostrar e vá atrás da sua felicidade
Por Roberto Shinyashiki*
De repente, você está fervendo de mágoa. Mais uma vez alguém do seu departamento foi promovido e você sobrou. De novo, um sócio está roubando a empresa e você pergunta, perplexo: "Como é que isso está acontecendo?" Mais uma vez a pessoa que você está amando diz adeus. Ou pior: não diz adeus claramente, passa a não retornar seus telefonemas, espaçando o contato.
A vida vai ficando cada vez mais pesada. É importante perceber que tudo o que ocorre em nossa vida pessoal e profissional é resultado de um trabalho que está sendo construído há algum tempo.
Quando os resultados não são os esperados, chegou a hora de mudar. Muitas pessoas vivem iludidas, pensando que os resultados mudarão sem que façam algo diferente. Ou seja, fazem sempre as mesmas coisas e esperam que os resultados sejam diferentes.
É o caso do pai que bate no filho para que ele estude. O menino não muda, mas ele mantém a atitude. Bate de formas diferentes, mas continua com o mesmo processo. Um dia bate e grita. No outro, bate e corta a mesada. Depois corta a mesada e não deixa sair.
Certa vez uma leitora me enviou uma carta com a seguinte pergunta: "Roberto, sou muito possessiva e controladora, e percebo que, se mostro isso no iní-cio dos relacionamentos, meus namorados vão embora. A partir de que momento posso mostrar essas características a eles?"
Minha resposta foi: nunca. Ninguém gosta de ser controlado e dominado. Trabalhe a sua insegurança. O problema não é mostrar, e sim deixar de ter esses traços de personalidade. Muitas pessoas, em vez de mudar, ficam agressivas como animais selvagens ao ser atacados. O perdedor age como um animal na jaula: fica agitado porque se sente sacaneado. Na verdade, vive prisioneiro numa jaula construída por sua imaginação. A vantagem é que essa jaula não tem grades de ferro. É confeccionada de ilusão, e ele é o dono da chave. Pode sair de lá quando quiser.
Não adianta reclamar se o colega foi promovido e você não. Adianta perguntar-se o que ele fez para merecer a promoção e como você pode mostrar sua competência para ser mais valorizado.
Tampouco resolve lamentar que o sócio seja ladrão. Quantos amigos você tem que possuem sócios honestos? Por que eles escolheram melhor que você?
É inútil chorar a partida da pessoa amada. Vale mais questionar por que não consegue aprofundar os vínculos de seus relacionamentos afetivos. O que está acontecendo? Por que ela não quis ficar com você?
PARE DE SOFRER INUTILMENTE
O sinal de alerta da mudança toca sempre que substituímos a alegria de viver pela preocupação. E a fluidez pela tensão. Nesses momentos, você tem de tirar o barco do porto e colocá-lo no mar, rumo a um novo mundo.
Cada um de nós tem uma área da vida que necessita ser cuidada com mais atenção. Se alguma parte de sua vida anda aborrecida e sem sal, é sinal de que precisa ser mais bem cuidada. Afinal de contas, é a sua felicidade que está em jogo.
É claro que ninguém pode comprar a alegria de viver na padaria da esquina. Temos de aprender a conquistá-la. As lições estão dentro de nós. Precisa-mos ser professores e alunos de nós mesmos.
Na Índia, os mestres dizem que a diferença entre alguém que está com câncer e alguém com dor de cabeça depende da intensidade da aula que a pessoa está precisando. Na vida, quanto mais teimoso for o aluno, mais as aulas serão dolorosas. Quanto menos o aluno aprender, mais a vida vai bater pesado para que acorde e aprenda.
A escola da vida funciona assim. Se a pessoa está insatisfeita e fica em casa reclamando da sina em vez de tentar mudá-la, vai se tornar cada vez mais angustiada, arrumar uma úlcera ou uma depressão. Ela tem a ilusão de se acostumar com a dor, mas o pior é que a dor não pára de aumentar. A alegria de viver fica tão inacessível quanto o pico Everest.
Negar uma necessidade nunca foi boa solução. O problema vai continuar até a pessoa se convencer de que precisa sair daquela situação e começar algo novo. Essa é a lição que está fazendo falta. Quando nos recusamos a aprendê-la, o problema se agrava.
Muitas vezes, as pessoas insistem em comportamentos que dão resultados negativos e depois reclamam. Não percebem que reclamar é inútil e que a única saída é analisar a situação e buscar solucioná-la. Fazer as mesmas coisas e esperar que os resultados mudem é acumular sofrimento. Isso nos deixa amargos. Na vida, nós somos problema ou solução. Se formos parte do problema, ninguém vai gostar de ficar ao nosso lado. Se formos solução, conseguiremos fazer com que os outros tenham vontade de estar conosco e nos ajudar.
O psicanalista norte-americano Erick Ericsson disse que, por volta dos 50 anos, as pessoas se encontram numa encruzilhada existencial, entre a amargura e a sabedoria. Aquelas que aprenderam a viver conquistam a maturidade. Mas as que percebem que estão se aproximando da morte ficam amarguradas.
Quem aprendeu a simplificar a vida desfruta cada dia com alegria. Quem só aprendeu a reclamar de tudo terá de agüentar o peso da vida por mais algum tempo.
Extraído Frente de Batalha. Revista Vencer, Rio de Janeiro, ano 2003, a. 5, ed. 56, p. 12-13, 2003.
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